In Therapy: Pavilhão Nórdico na Bienal de Veneza 2016

Como parte da cobertura do ArchDaily Brasil na Bienal de Veneza 2016, estamos apresentando uma série de artigos escritos pelos curadores das exposições e instalações abertas à visitação.

Você é parte da sombra de outrem.
—Sverre Fehn em conversa com Per Olaf Fjeld

O ímpeto desta exposição é reconhecer a presença dos “fantasmas” da arquitetura nórdica – aqueles arquitetos, teóricos e educadores – os mais famosos que são frequentemente descritos como “Mestres Modernos” – que continuam a exercer influência na prática e pedagogia contemporâneas. Com efeito, uma dessas figuras mais proeminentes, o norueguês Sverre Fehn, projetou o Pavilhão Nórdico. Esta exposição aborda um desafio comum enfrentando pelos finlandeses, noruegueses e suecos hoje: como um edifício (para uma exposição, neste caso) existe em diálogo com seu entorno quando este entorno é tão carregado? Para nós, isto se liga a uma questão mais ampla: como a arquitetura pode ocupar um legado ao passo que ainda realiza o progresso. 

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© Laurian Ghinitoiu

Reconhecendo as intenções originais de Fehn de fazer o edifício completamente aberto, “In Therapy” trata o pavilhão como uma extensão do espaço público do Giardini. A instalação central da exposição – uma arquibancada piramidal construída com técnicas tradicionais e pinus sueco – espelha precisamente os degraus da antiga escadaria para criar um anfiteatro para debates críticos. Por outro lado, no entanto, ela se distancia do peso do espaço para confrontar os visitantes com uma impressão, todavia fugaz, do espaço da arquitetura nórdica contemporânea. Aqui, livre do historicismo, questões fundamentais podem ser levantadas: como a arquitetura dos últimos nove anos se desenvolveu? Que tópicos as conectam e quais direções unificadoras, se houver alguma, podem ser identificadas? O que é preciso para estar na vanguarda, buscando conquistar novos campos? Eo mais importante: o que está por vir?

Imagem © Laurian Ghinitoiu

Visando incentivar esta distância, esta exposição não buscar realmente ser uma exposição. Ela não demanda toda sua atenção nem tenta transmitir toda sua mensagem de uma vez. Ela busca desviar da monotonia das exposições arquetípicas que impõem o “pare e olhe” ao criar “uma clareira em meio à congestão” para refletir sobre o material que foi reunido e as vozes convocadas. A instalação central – a pirâmide – não é apenas um artefato urbano, mas também um mostruário: uma instalação habitável a ser investigada e explorada. A arquitetura, ao menos na forma e quantidade que foi reunida aqui, pode ser melhor experienciada em estado de distração. [2]

Visando incentivar esta distância, esta exposição não buscar realmente ser uma exposição. Ela não demanda toda sua atenção nem tenta transmitir toda sua mensagem de uma vez. Ela busca desviar da monotonia das exposições arquetípicas que impõem o “pare e olhe” ao criar “uma clareira em meio à congestão” para refletir sobre o material que foi reunido e as vozes convocadas. A instalação central – a pirâmide – não é apenas um artefato urbano, mas também um mostruário: uma instalação habitável a ser investigada e explorada. A arquitetura, ao menos na forma e quantidade que foi reunida aqui, pode ser melhor experienciada em estado de distração. [2]

Explorando. Imagem © Laurian Ghinitoiu

A pirâmide em si age como um receptáculo, apresentando as respostas de uma chamada de trabalhos que convidava escritórios de todo o mundo a enviar projetos realizados nos países nórdicos entre 2008 e 2016. Cada escritório foi desafiado a auto categorizar seus projetos como Fundacional (arquiteturas que se importam com as necessidades básicas da sociedade), Pertencimento (arquiteturas que recebem programas públicos e criam espaços públicos), ou Reconhecimento (arquiteturas que apreciam e refletem sobre os valores da sociedade nórdica). Cada escritório indicou como seus projetos contribuíram – ou não contribuíram – com a condição atual das sociedades finlandesa, norueguesa e sueca. 

Imagem © Laurian Ghinitoiu

Esta classificação tripartida – traduzida aqui como três faixas coloridas – é uma interpretação da estrutura da Hierarquia de Necessidades criada em 1954 por Abraham Maslow, na qual teorizava sobre as “necessidades” [3] motivacionais básicas e complexas do progresso do indivíduo. Maslow descreveu o topo de sua hierarquia, diagramada como uma pirâmide, como “auto atualização” (ou a realização do potencial completo de alguém) – alcançável apenas quando todas as “necessidades” subjacentes tiverem sido satisfeitas; em outras palavras, cada passo é pré-requisito para o próximo. Se aqui a pirâmide representa o desenvolvimento da sociedade, a arquitetura pode ser lida como seus blocos de construção. 

Imagem © Laurian Ghinitoiu

Aqui, portanto, as nações nórdicas foram colocadas “em terapia”. Embora possa parecer que a Finlândia, a Noruega e a Suécia estejam no topo da pirâmide – tendo atingido um nível de equilíbrio entre sociedade capitalista e estado de bem estar social, elogiado no mundo todo – eles também encaram desafios complexos. De preocupações relativas a demandas de imigração e integração social, a uma população que está envelhecendo e o realinhamento a uma nova economia pós-industrial, In Therapy reuniu elementos inconscientes e conscientes (a pirâmide de projetos e uma série de reflexões, respectivamente) para trazer à tona as conexões e conflitos entre arquitetura e sociedade nórdica em geral. É a arquitetura – em seu papel mais amplo como prática espacial, social e cultural – que está no centro do discurso.

Ambientes sem paredes. Imagem © Laurian Ghinitoiu

Nesse sentido, In Therapy é um espelho: uma coleção de instalações que apresenta a abrangência na arquitetura nórdica contemporânea, reunidas sob o mesmo teto, para proporcionar um quadro de informações para discussão e proposição. A exposição coloca a Finlândia, a Noruega e a Suécia – três países com histórias, culturas e atitudes de projeto – face a face no contexto do mundo comprimido do Giardini, interrogando percepções e preconcepções da arquitetura nórdica ao abordar sua manifestação construída.

Imagem © Laurian Ghinitoiu

Equipe

Curador: David Basulto
Curador assistente: James Taylor-Foster
Comissários: ArkDes (Swedish Centre for Architecture and Design), Stockholm; Museum of Finnish Architecture, Helsinki; National Museum’s Department of Architecture, Oslo
Gerente de projeto: Karin Åberg Waern
Consultoria de projeto: Juulia Kauste, Eva Madshus
Projeto expográfico: Marge Arkitekter
Construção: Eckerud
Projeto gráfico: MPVK and Lisa Olausson
Tipógrafo: Thomas Hirter
Edição: Crystal Bennes

Referências

[Citação de abertura] Para saber mais, veja: Christian Norberg Shultz, The Poetic Vision of Sverre Fehn in Sverre Fehn: Works, Projects, Writings, 1949–1996. Ed. Christian Norberg-Schulz, Gennaro Postiglione (New York: Monacelli Press, 1997), pp.32–41 – via Mark J. Neveu, On Stories: Architecture and Identity (Oslo: Arkitektur N, 02, 2008), p. 7
[2] W. Benjamin, H. Zorn trans., The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction in Illuminations (London: Pimlico, 1999), p.232
[3] Namely ‘physiological’ (shelter, warmth, food, and sleep), ‘social’ needs (security, order, and stability), and those related to personal ‘esteem’ (achievement, prestige, and respect)

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Sobre este autor
Cita: James Taylor-Foster, David Basulto. "In Therapy: Pavilhão Nórdico na Bienal de Veneza 2016" [In Therapy: Inside the Nordic Pavilion at the 2016 Venice Biennale] 02 Jun 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/788570/in-therapy-pavilhao-nordico-na-bienal-de-veneza-2016> ISSN 0719-8906

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